7 dicas de Steven Pinker para escrever melhor
 



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7 dicas de Steven Pinker para escrever melhor

Marcelo Spalding




(FOTO: PIXABAY/DOMÍNIO PÚBLICO)



Steven Pinker, professor do departamento de psicologia da Universidade Harvard, psicólogo e rockstar como gosta de se definir, escreveu o livro Sense of Style – que agora chega ao Brasil como Guia de Escrita (Editora Contexto, R$ 49,90).



Confira sete dicas do livro que a GALILEU separou:



1. Esqueça essa história de que antigamente as pessoas escreviam melhor: Se uma pessoa está na face da Terra há muito tempo, é natural que se incomode com mudanças culturais. Mas você não pode deixar suas tradições e opiniões transformarem seu texto em um autêntico José de Alencar. A verdade é que a língua muda rápido, e desde que o mundo é mundo professores e acadêmicos estão reclamando da decadência moral e linguística. Pinker faz até uma coletânea de exemplos de várias épocas. Em 1478 o tipógrafo William Caxton afirmou que "nossa língua tal como é usada hoje difere de longe daquela que era usada e falada quando eu nasci". Já um anônimo de 1917 foi categórico: "Nossos calouros não sabem soletrar, não sabem pontuar. Todos os colégios estão desesperados, porque os alunos desconhecem os rudimentos básicos".



2. Fuja do jargão de sua área do conhecimento. Rápido: Já tentou ler um texto jurídico? Ou o manual de instruções para a instação de um roteador em casa? Ou mesmo um dos artigos científicos que a GALILEU lê todos os dias para te atualizar? Pois é, a redação é indecifrável em grande parte dos casos. Pinker afirma que é difícil para uma pessoa saber como é para outra pessoa não saber o que ela sabe. Em outras palavras, quando você entende tudo de um assunto, tem a impressão de que todo entende pelo menos um pouquinho. A consequência é o que ele denomina "maldição de conhecimento". Em resumo: evita abstrações demais, e use palavras que todo mundo conhece. Não vai doer nada, e vai te ajudar a enviar sua mensagem ao maior número possível de pessoas.



3. Evite transformar verbos em substantivos: O fechamento brusco da peça pode ocasionar a quebra de suas dobradiças. Não é difícil topar com um aviso como esse na caixa de um produto qualquer. Soa péssimo, e o pecado está em não assumir as ações. Por que usar "ocasionar a quebra" se "quebrar" é tão mais simples? Pinker chama esse tipo de substantivo de "zumbi", e dá uma boa sugestão: trazer todos de volta à vida verbal: Fechar a peça bruscamente pode quebrar suas dobradiças.



4. Diminua a distância entre palavras relacionadas entre si.


Ouviram do Ipiranga as margens plácidas... De um povo heróico o brado retumbante.


Que tal colocar na ordem? As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.



Ufa! Vamos do hino nacional a Os Lusíadas, de Camões.


As armas e os barões assinalados,


Que da ocidental praia Lusitana,


Por mares nunca de antes navegados,


Passaram ainda além da Taprobana,


Em perigos e guerras esforçados,


Mais do que prometia a força humana,


E entre gente remota edificaram


Novo Reino, que tanto sublimaram;


O sujeito são "as armas e os barões assinalados". O verbo, "cantando".


Você não viu o verbo na estrofe acima? Pois é. A não ser que você seja Camões, separar os dois dessa maneira não é uma boa maneira de escrever um e-mail para seu chefe. À proposito, ele está destacado na estrofe abaixo, 14 versos depois.



E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis, que foram dilatando


A Fé, o Império, e as terras viciosas


De África e de Ásia andaram devastando;


E aqueles, que por obras valerosas


Se vão da lei da morte libertando;


Cantando espalharei por toda parte,/


Se a tanto me ajudar o engenho e arte.



5. Use as vozes passiva e ativa para dirigir o olhar do leitor para o que interessa: A voz passiva é considerada por alguns gramáticos e revisores uma grande inimiga de uma boa redação. Não seja tão radical. Como você pode perceber pela frase anterior — que está em voz passiva — começar uma frase por seu objeto é um ótimo jeito de chamar a atenção do leitor para o que realmente interessa. O contrário pode até dar certo: Alguns gramáticos e revisores consideram a voz passiva uma grande ... Mas tiraria o foco do assunto da frase.



Pinker também lembra que ela pode tirar do caminho sujeitos que não interessam para quem lerá a frase. Em helicópteros foram levados ao local do incêndio, o ouvinte não precisa saber quem são os pilotos. Políticos e jornalistas sabem muito bem disso, e podem usar a passiva para omitir o sujeito quando, na verdade, ele é de interesse público, como em R$ 25 milhões foram desviados de uma empresa estatal em vez de João da Silva desviou R$ 25 milhões de empresa estatal.



6. Use sinônimos para não repetir palavras, mas não exagere na dose: Não é uma boa ideia repetir uma palavra vezes demais. João é legal. João foi à escola. Lá, João falou com seus amigos. É por isso que no gênero jornalístico uma instrução comum é não repetir palavras essenciais para a matéria na mesma página. Buscar sinônimos, porém, pode te levar a construções desconfortáveis.



Isso acontece, em primeiro lugar, porque não há tantos sinônimos assim: gato pode ser trocado por bichano ou felino, mas seu nome científico, Felis catus, já seria um exagero fora de um texto especializado. Outro é que é preciso tomar cuidado para usar palavras na sua ordem de abragência. Dá para dizer O ônibus acelerou. As pessoas caíram dentro do veículo. Já O veículo acelerou. As pessoas caíram dentro do ônibus não deixa claro que o veículo em questão é um ônibus. A categoria "veículo" engloba muitas coisas, entre elas, ônibus.



7. Tome cuidado com ambiguidades sintáticas: A polícia cercou o ladrão do banco na rua Santos. Afinal, o ladrão do banco da rua Santos foi cercado em um lugar qualquer ou o ladrão de um banco qualquer foi cercado na rua Santos? Quando conhecemos uma história, o significado de uma frase parece óbvio. Tão óbvio que não temos o costume de revisar para ver se alguém poderia entender algo completamente diferente.



Fonte: Revista Galileu

 

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